21/FEV/2020
Papillon
A verdadeira história de Papillon
Laudo da Polícia Federal confirma que o famoso prisioneiro
francês que fugiu da Ilha do Diabo viveu seus últimos anos no Brasil e teve sua
obra roubada pelo escritor Henri Charrière
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1791–
PAPILON
21/FEV/2020 – Edição nº 1791 terá o registro
de PAPILON – francês e um “pequeno ladrão” que foi condenado, inocentemente; a prisão perpetua por um crime não cometido...

Henri Charrière, chamado de Papillon, pequeno bandido do
subúrbio de Paris da década de 30, é condenado à prisão perpétua por um crime
que não cometeu. Enviado para a Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, ele conhece
Louis Dega, homem que Papillon promete ajudar em troca de auxílio para escapar
da prisão.
Papillon
A verdadeira história de Papillon
Laudo da Polícia Federal confirma que o famoso prisioneiro
francês que fugiu da Ilha do Diabo viveu seus últimos anos no Brasil e teve sua
obra roubada pelo escritor Henri Charrière
Ele se tornou
famoso mundialmente em 1969, ao publicar o livro Papillon, no qual contava a sua fuga espetacular, ocorrida em 1935,
da Ilha do Diabo, o sinistro complexo de presídios que a França mantinha na
Guiana Francesa. O sucesso foi ainda maior quando a história do prisioneiro
Henri Charrière, o Papillon, chegou às telas dos cinemas em 1971 em uma
superprodução de Hollywood, com Steve McQueen no papel principal.

Mas Charrière, um
homem de poucos estudos, era uma gigantesca
farsa. O verdadeiro
autor de Papillon foi outro fugitivo, René Belbenoît, um intelectual que falava
quatro línguas e liderou um grupo de presos (entre eles Charrière), façanha
relatada em seu livro A Ilha do Diabo (Dry
guillotine no original, Prêmio Pullitzer de 1938). O sucesso do livro na época
fez com que a França terminasse por desativar o presídio por onde passaram (e
morreram, em boa parte) milhares de prisioneiros.
Depois de fugir
para a então Guiana Inglesa, René Belbenoît, o verdadeiro Papillon, radicou-se
com seus parceiros em Roraima desde 1940, morrendo em 1978, aos 73 anos, e
sendo sepultado na Vila Surumú, no norte do Estado, hoje parte da Terra
Indígena São Marcos.
Esse aparente fim
obscuro de Belbenoît concluiu uma trajetória de vida cheia de intrigas, 13 anos
de desterro (1922-1935) na Ilha do Diabo por assalto, livros de sucesso,
identidades falsas, um assalto milionário e muitos negócios com garimpos de
ouro, diamantes e metais preciosos. Além, é claro, da história de como os
manuscritos dos livros Papillon e Banco, escritos por René Belbenoît na Vila Surumú,
acabaram nas mãos de Charrière.
Os dois primeiros
livros de Belbenoît , Hell on trial e Dry
guillotine, foram publicados nos EUA graças à amizade que ele construiu durante
anos de correspondência, ainda na prisão, com a escritora americana Blair
Niles. Os dois acertaram ainda que um dos fugitivos, de nome desconhecido,
deveria seguir para os EUA e assumir a identidade de René Belbenoît, como
medida de segurança para o grupo que ficou na América do Sul.
Esse falso René,
que morreu em 1959 na Califórnia e teve o corpo cremado, acabou sendo vital
para que a verdadeira identidade de Papillon fosse comprovada este ano no Brasil.
Foi comparando
fotos dos dois com a identidade de Belbenoît, tirada em 1973, que os peritos da
Polícia Federal Paulo Quintiliano e Marcelo Ruback, depois de seis meses de
trabalho em computador, chegaram à conclusão de que o verdadeiro René, o Papillon
(apelido que ganhou na prisão ainda na década de 1920), é o que morreu e está
enterrado no Brasil. “Usamos um programa de computador que desenvolvi em minha
tese de doutorado e que permite a identificação precisa de pessoas através de
imagens faciais”, diz o perito Paulo Quintiliano. “Isso mostra que eu tinha
razão ao garantir que Papillon tinha vivido décadas e morrido em Roraima”,
comemora o fotógrafo e escritor Platão Arantes, autor de dois livros sobre o
caso.
Medo
dos alemães – René e seus parceiros, que estavam sendo bem-sucedidos no
garimpo de diamantes e de ouro na Guiana Inglesa, decidiram vir para o Brasil
em 1940, depois que as tropas de Hitler invadiram a França, deixando o Reino
Unido na mira dos nazistas. Preocupado com o domínio alemão, ele convenceu os
outros a fugir para o Brasil. O grupo subiu de barco o rio Demerara e depois
fez uma caminhada de 23 dias pela mata e pela savana, até chegar às margens do
rio Maú. “Eu estava na frente de nossa casa, uma fazenda à beira do rio, quando
ouvimos os chamados de um grupo de homens no outro lado. A fazenda de papai era
o ponto de passagem no rio Maú e meu pai me mandou pegar a canoa e trazer o
pessoal”, conta Rui Meneses, o seu Bebé, 77 anos. Na época, ele tinha 12 anos e
ficou admirado com o chefe do grupo, que falava perfeitamente o português,
apesar do forte sotaque. Além de René, integravam o grupo Maurice Habert,
Joseph Guillermin Marcel, Charrière e Roger.
Em uma região que
era um enorme e desértico município do Amazonas, os fugitivos sentiram-se
seguros. Maurice casou-se com uma nativa, teve três filhos e implantou o
cultivo do tomate na região.

Sua influência foi
tão grande que conseguiu que a Vila do Maú se tornasse a Vila Normandia, em
homenagem à sua região natal na França. Belbenoît, que tinha recebido um bom
dinheiro, fruto do sucesso de seus livros nos EUA, investiu no garimpo de
diamantes e ouro, além de colaborar com os americanos, interessados na pesquisa
mineral da região. Mas não ficou apenas nos negócios. Fiel ao seu passado
bandido, em 1942 René comandou o bem-sucedido assalto à filial da empresa JG
Araújo, em Boavista. A empresa era um entreposto que fornecia víveres e todo
tipo de equipamento para a região que é hoje o Estado de Roraima, e ainda
negociava com ouro, diamantes e servia como um banco informal. Platão Arantes
ouviu testemunhas que suspeitam de conluio entre os donos da empresa, os
devedores e até as autoridades da época. O assalto serviu de tema, anos depois,
para o livro Banco, de Belbenoît, que também lhe foi
roubado por Charrière.
Ascensão
e queda – Quando Roraima virou território em 1943, as investigações, que
eram comandadas de Manaus, foram encerradas. “Conheci o René em 1943 e fui seu
sócio durante mais de dez anos em garimpos no rio Maú e em outros lugares da
região. Só em 1961 tive certeza de que ele tinha sido o chefe do assalto”,
conta Alfredo Ferreira Nunes, o professor Parazinho, 84 anos. Ele garante que o
amigo era muito inteligente e ganhou muito dinheiro. “Quando não estava
escrevendo, o René estava fazendo bons negócios. Ganhou muito dinheiro, mas, no
fim da vida, perdeu tudo de maneira muito estranha. Mas quem se aproveitou dele
ficou sem nada. Até as terras passaram para os índios”, comenta Parazinho. Ele
não tem dúvida de que Charrière traiu seu amigo. “Ele fez sacanagem, colocando
seu nome nos escritos do René. Todas as histórias do livro e do filme são do
René. Ele me contava”, garante.
Maria do Socorro da
Cunha Camilo, 58 anos, também se lembra bastante de René. Ela conheceu o
verdadeiro Papillon quando pequena, no Surumú, onde seu pai tinha uma fazenda.
René, que tinha um armazém e bar que abastecia a região, gostava de contar
histórias para crianças e adultos, lembrando de suas aventuras. Maria do
Socorro só percebeu a dimensão das histórias em 1981, quando o filme Papillon estava sendo
exibido na tevê. “Eu não estava prestando muita atenção até que vi a cena do
teste com a jangada de cocos. Virei para meu filho menor e disse: ‘Essa é a
história do padrinho da Ana, sua irmã.’ Ele perguntou como eu sabia e respondi
que durante anos, desde garota, ouvi o velho René contar como ele e uns
companheiros fugiram da Ilha do Diabo”, recorda.
Os destinos de René
Belbenoît e Henri Charrière, que haviam se separado em 1943, quando o falso
Papillon foi para a Venezuela, voltaram a se cruzar em 1955. René tinha
recebido um pedido de um diretor de cinema americano, amigo do casal Niles,
para que transformasse o livro Dry
guillotine em uma espécie de roteiro para o cinema. Mas que contasse a fuga
de apenas um prisioneiro. René escreveu um calhamaço e considerou que a forma
mais fácil de mandar o material para os EUA era via Venezuela. E contatou
Charrière, que trabalhava no porto. O falso Papillon guardou os manuscritos,
que estavam em inglês, durante anos. Quando soube da morte do falso René nos
EUA, contratou um jornalista francês que morava na Venezuela e lhe devia
dinheiro para fazer uma adaptação em francês, acrescentando mais um fugitivo.
E, em 1969, depois de ter mandado tatuar no peito uma borboleta, lançou como
seu o livro Papillon.
Em 1971, Charrière
mandou emissários à Vila Surumú para pegar os originais do livro Banco. René estava quase
cego, com catarata e uma doença no nariz – há dúvidas se era câncer ou
leishmaniose – e cedeu às pressões. As divergências entre os dois livros
ajudaram a expor Charrière como um farsante. Ele gastou praticamente todo o
dinheiro ganho com o livro e o filme Papillon na produção
de outro filme que foi um fracasso total. E morreu pobre, destruído pela
bebida, em 1973. Em Roraima, já existe um movimento para transformar a Vila
Surumú em um museu vivo do verdadeiro Papillon. E trocar a cruz branca sem
identificação por uma tumba à altura do novo ídolo do Estado.
ATÉ UIMA PRÓXIMA
OPORTUNIDADE...JCF
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