24/SETEMBRO/2020 - JCF


COLUNA JCF – TRADIÇÃO E CULTURA

                     JCF Clovis -  Tradição e Cultura                    

Viajando pela historia e cultura

2008 – GERRA  MÉXICO VERSUS E.U.A – PARTE 2

Guerra EUA/México e suas campanhas.

A segunda causa básica da guerra foi a Guerra da Independência do Texas e a anexação posterior dessa área pelos Estados Unidos. O México não reconheceu a anexação e reivindicou a região, alegando que o Texas era um Estado mexicano rebelde. Mas apesar da forte pressão da opinião pública do México para guerra, de início não houve resistência armada à anexação. A guerra só começaria com a tentativa de os Estados Unidos expandir as fronteiras do território anexado para além dos limites do antigo Departamento de Tejas mexicano.


A disputa política transformou-se num conflito militar aberto quando um destacamento do Exército dos Estados Unidos, sob comando de Zachary Taylorinvadiu o território ao sul do rio Nueces. Embora essa área não fizesse parte do Texas quando ainda era o Departamento de Tejas, parte do estado Mexicano de Coahuila y Tejas, os Estados Unidos reivindicavam essa terra para si. A pretensão baseava-se no tratado de Velasco, assinado por Antonio López de Santa Anna em 1836, em que concordava em recuar as tropas mexicanas para além do Rio Grande, cerca de 240 km ao sul de Nueces. O entendimento dos Estados Unidos era que esse recuo estabelecia a nova fronteira do estado que se tornara de fato independente. O México não partilhava dessa leitura e não reconhecia a validade do tratado que fora firmado por Santa Anna enquanto esteve prisioneiro dos texanos, e que o congresso mexicano se recusara a ratificar, negando que o signatário tivesse poderes para tal acordo. Seguiu-se uma série de escaramuças que finalmente transformaram-se em guerra em plena escala.

Oposição nos Estados Unidos

A expedição contava com apoio entusiástico do Partido Democrata e com a veemente oposição dos whigs. Havia uma grande diferença ideológica entre as duas facções. Os democratas, fiéis ao Destino Manifesto e à Doutrina Monroe, acreditavam ser dever de os Estados Unidos levarem os benefícios do seu sistema de governo a todo o continente americano, ainda que pelo uso de armas. Os whigs acreditavam que o caminho para o mesmo objetivo era aperfeiçoar a democracia local e ganhar os vizinhos pela contundência do seu exemplo, e não com a força.

Os debates no congresso foram extremamente acalorados. O conhecido abolicionista e congressista whig Joshua Reed Giddings chegou a declarar da tribuna do congresso:

No assassinato de mexicanos em seu próprio solo e no roubo da terra que lhes pertence, eu não posso tomar parte nem agora nem no porvir. A culpa por esses crimes deve cair sobre outros

A posteriori, um dos críticos proeminentes do papel dos Estados Unidos na guerra foi Ulysses Grant, que nela combateu com distinção quando jovem oficial do exército invasor. Nas suas Memórias, Grant qualificou a guerra como

...uma das mais injustas movidas em qualquer tempo por uma nação mais forte contra uma mais fraca.

Mais tarde Grant tornar-se-ia comandante-em-chefe das forças da União durante a Guerra da Secessão e depois presidente dos Estados Unidos.

Parte do imaginário coletivo norte-americano acreditava que era destino dos EUA realizar sua expansão territorial, tinha-se a crença de que a Providência Divina demandava dos norte-americanos uma postura civilizatória, em oposição às forças europeias que supostamente desejavam frear o crescimento da América. Pouco a pouco, essa crença se transmutava num nacionalismo norte-americano, numa visão exaltada de si próprio como povo e Nação. Em Massachusetts, o sentimento para com a guerra se desenvolveu de forma a se afastar desse nacionalismo, parte dessa população não apoiava o embate com os mexicanos. O estado de Massachusetts caracterizou a empreitada americana como uma “guerra de conquista” que dizia interesse para os fazendeiros escravistas. Dentre as pessoas que desaprovavam a guerra México-americana, a oposição mais conhecida é a de Henry David Thoreau, pois “não foi apenas um crítico a guerra como agressão ao México, mas também se negou a pagar impostos como protesto (...)”. Nesse cenário, Thoreau escreveu se escrito mais popular “A Desobediência Civil”, um ensaio no qual criticava os maus governos e propunha um modelo de combate à tirania.

Há uma longa tradição nos EUA de hostilidade para com o Estado e defesa da autonomia individual; os Estados Unidos é, afinal de contas, a democracia liberal mais antiga do mundo. Existe um profundo enraizamento da defesa dos direitos individuais dentro das visões de mundo norte-americanas. No século XIX Henry David Thoreau se aproximou muito de um individualismo libertário baseado na descoberta da verdadeira natureza humana através de uma cultura ligada à natureza, movimento esse que ficou conhecido como “Naturalismo Transcendentalista” ou “Individualismo Transcendentalista”.

Perante a guerra contra o México, a pergunta que Thoreau se fez, basicamente, foi “como lidar com esse mal?”. Basicamente, a resposta fora “não compactuar com esse mesmo mal”. Henry Thoreau diz em seu ensaio: “Todos os homens reconhecem o direito de revolução; isto é, o direito de recusar obediência ao governo, e de resistir a ele, quando sua tirania ou sua ineficiência são grandes e intoleráveis”. O naturalista se recusou a pagar impostos para o governo americano, a recusa de Thoreau a pagar imposto foi um ato simbólico de protesto contra um governo escravista e que deflagra guerra contra outros indivíduos. O escritor não podia, aos seus próprios olhos, reconhecer um governo que propaga a violência e o mal. E, justamente por isso, aceitou ir para a prisão, afirmando que num governo que prega o aprisionamento moral, o verdadeiro lugar de um homem honesto seria a prisão.

A “resistência”, para esse autor, era a capacidade de se autodefender. A sonegação de impostos seria legítima defesa. Henry Thoreau enxergava o Estado como um todo sob a ótica de que o mesmo está sujeito ao fracasso, afirmando em sua obra: “O governo em si, que é apenas o modo que o povo escolheu para executar sua vontade, está igualmente sujeito ao abuso e à perversão antes que o povo possa agir por meio dele. Prova disso é a atual guerra mexicana, obra de relativamente poucos indivíduos que usam o governo permanente como seu instrumento, pois, desde o princípio, o povo não teria consentido semelhante iniciativa”. A oposição que existia, era não necessariamente entre Governo x Cidadão, mas sim entre Governo x Consciência. A “teoria” thoreauriana tem base no princípio dos indivíduos exercer seu próprio julgamento e não servir ao Estado como uma máquina, que não questiona, ou como um boneco de madeira que pode ser modelado da forma que o escultor (o Estado) desejar.

homem”, ou seja, que cada indivíduo ganhasse consciência perante um mau governo. O engajamento do transcendentalista com o Estado se deu apenas pela sua ação como escritor e a recusa de contribuir com seu dinheiro. Lê-se em A desobediência civil: “Que cada homem faça saber qual é o tipo de governo capaz de conquistar seu respeito”. “A desobediência civil de Thoreau é a escolha que ele fez quando não havia outra escolha que não agir; não é apenas ação, mas uma ação necessária (...)”. A ação de Thoreau, fora, em essência uma ação não-violenta, o autor seria um dos precursores do movimento de não-violência utilizados por Gandhi e Martin Luther King Jr. E, assim como estes últimos, a ação do americano é relacionada diretamente com uma fonte essencial de opressão, o Estado. Mesmo que para o autor nenhum homem seja responsável por solucionar algum mal que seja, os indivíduos tem a obrigação de não compactuar com este mal, devem desobedecer as leis injustas e não apoiar as práticas condenáveis:

Em outras palavras, quando um sexto da população do país que se apresenta como refúgio da liberdade é composto de escravos, e uma nação inteira é injustamente atacada, conquistada por um exército estrangeiro e submetido à lei militar, penso que não é cedo demais para os homens honestos se rebelarem e fazerem a revolução. O que torna ainda mais urgente esse dever é o fato de que o país assim atacado não é o nosso, pois nosso é o exército invasor (...) Se a injustiça tiver uma mola própria e exclusiva, ou uma polia, ou uma corda, ou uma manivela, talvez seja o caso de avaliar se o remédio não seria pior que o mal; mas se ela for do tipo que requer que você seja o agente da injustiça contra outra pessoa, então, eu digo: Viole a lei.

Descrição do conflito

Pintura da batalha de Churubusco (1847), por J. Cameron.

Em seu início, o conflito foi convencional, travado por exércitos tradicionais consistindo de cavalariainfantaria e artilharia utilizando táticas estabelecidas em estilo europeu. Como as forças norte-
Continua na edição 2009 com a terceira parte...JCF

 

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