25/FEV/2020
Continuação da edição nº 1797...
A Aliança Liberal e o tenentismo
E
MAIS Rondônia Com Você e Ponto
JCF
Clovis - Tradição e Cultura
Viajando
pela historia e cultura
1798
– A ERA VARGAS – SEGUNDA PARTE
Era comum, naquela época, as
negociações políticas, chamadas démarches, se fazerem,
especialmente, através de longas cartas. Washington Luís divulgou pela imprensa
várias cartas que recebeu de Getúlio Vargas e de Antônio Carlos de Andrada para
provar que não impusera o nome de Júlio Prestes como candidato à sua
sucessão. Antônio Carlos chegou a ser considerado pré-candidato à
presidência da república, como mostra uma marchinha da época, de autoria de
Freire Júnior, cantada por Francisco de
Morais Alves e que se tornou
uma profecia:
ERA VARGAS -1930 A 1937
“Se
o mineiro lá de cima se descuidar,
Seu Julinho vem, vem mas custa,
Muita gente há de chorar!”
Seu Julinho vem, vem mas custa,
Muita gente há de chorar!”
Os políticos de Minas Gerais
apoiadores da política "carlista" ficaram insatisfeitos com a
indicação de Júlio Prestes, pois esperavam que Antônio Carlos, presidente do
estado, fosse o indicado, por Washington Luís, seguindo a tradição, ou, pelo
menos, que o presidente indicasse um terceiro nome, no caso, Getúlio Vargas. Os
carlistas lançaram, então, Getúlio como candidato de oposição à candidatura de
Júlio Prestes. Antônio Carlos ficaria conhecido como o "Arquiteto da
Revolução de 1930".
Minas Gerais, então, se
dividiu: Os políticos ligados ao vice-presidente da república Melo Viana e ao ministro da Justiça Augusto Viana do
Castelo, pertencentes à Concentração
Conservadora, mantiveram o apoio a Júlio Prestes e fizeram oposição à política
carlista e ao Partido Republicano
Mineiro.
Com a indicação de Júlio
Prestes como candidato oficial à presidência da república e o consequente apoio
do PRM de Minas Gerais à candidatura de Getúlio Vargas,
terminava a política do
café-com-leite, que vigorou na República
Velha, quebrando o equilíbrio político nacional criado por Campos Sales na
sua chamada Política dos
Estados que ficaria conhecida
popularmente como "política dos governadores" e jogando o Brasil numa
instabilidade política.
O perigo da instabilidade
política já chamava, em 1929, a atenção de Monteiro Lobato,
na época representante comercial do Brasil nos Estados Unidos. Em
28 de agosto de 1929, em carta ao dr. Júlio Prestes, Monteiro Lobato
transmite-lhe votos pela "vitória na campanha em perspectiva",
afirmando que "sua política na presidência significará o que de
mais precisa o Brasil: continuidade administrativa!"
Os três estados dissidentes,
iniciaram a articulação de uma frente ampla de oposição, chamada de Aliança Liberal, que tinha o objetivo de se opor ao intento do
presidente da república e dos dezessete estados de eleger Júlio Prestes.
Washington Luís era por natureza um conciliador (por exemplo, assim que assumiu
a presidência libertou todos os presos políticos, civis e militares), porém, em
outubro de 1929, três meses depois da indicação de Júlio Prestes, ocorreu a
queda dos preços do café, em
decorrência da crise de 1929. Isto fez com que Washington Luís mantivesse a
candidatura de um paulista, Júlio Prestes, oficializada em 12 de outubro, como
queriam os cafeicultores de São Paulo, apesar das pressões de Minas Gerais,
Paraíba e do Rio Grande do Sul. Por seu lado, Antônio Carlos não aceitou
retirar a candidatura Getúlio.
Júlio Prestes se destacara no
governo de São Paulo pela defesa do café. Entre outras medidas tomadas reformou
o Banespa, para ser
um banco de hipotecas dos estoques de café, harmonizando os interesses
dos cafeicultores com os dos exportadores de Santos. O café
representava 70% das exportações brasileiras. Além disso, havia uma
superprodução de café nas fazendas e um grande estoque nas mãos do governo
paulista. Pela lógica, Minas Gerais, como segundo maior produtor de café do
Brasil, deveria apoiar São Paulo, mas terminou por apoiar o Rio Grande do Sul.
CHARGES HISTÓRICAS - REVOLUÇÃO DE 30 - JCF
A Aliança Liberal e o tenentismo
A Aliança Liberal foi criada em agosto de 1929 para fazer oposição à
candidatura de Júlio Prestes à
presidência da república. Formavam a Aliança Liberal: Minas Gerais, Rio Grande
do Sul e Paraíba e partidos políticos de oposição de diversos estados,
inclusive do Partido
Democrático (1930) de São Paulo.
O Partido Democrático surgiu,
em 1926, de uma dissidência do PRP,
o partido de Júlio Prestes e Washington Luís. Sendo que um dos líderes do
Partido Democrático (Paulo Nogueira Filho) participou do "Congresso Libertador",
realizado em Bagé,
em 1928. Em contrapartida, em Minas Gerais, a aliança política denominada
Concentração Conservadora apoiou Júlio Prestes.
No dia 5 de agosto, os líderes
das bancadas mineira e gaúcha na Câmara dos Deputados declaram que não faziam
mais parte da maioria parlamentar governista.
A formalização da Aliança
Liberal foi feita em 20 de setembro de 1929, numa convenção dos estados e
partidos oposicionistas, no Rio de Janeiro, presidida por Antônio Carlos de
Andrada, lançando os candidatos da Aliança Liberal às eleições presidenciais:
Getúlio Vargas para presidente da República e João
Pessoa, presidente da Paraíba, para a
vice-presidência da República. Washington Luís tentou convencer os presidentes
gaúcho e mineiro de desistirem dessa iniciativa. Em carta dirigida a Andrada,
argumentava que dezessete estados apoiavam a candidatura oficial. Não obteve
êxito.
Em 12 de outubro de 1929,
realizou-se, no Rio de Janeiro, uma convenção dos 17 estados governistas, que
indicou Júlio Prestes de Albuquerque como candidato à presidência da República
e o presidente da Bahia, Vital Soares,
pertencente ao Partido Republicano Baiano, a vice-presidente.
Getúlio Vargas enviou o senador Firmino Paim Filho para dialogar em seu nome com Washington Luís e
Júlio Prestes. Em dezembro de 1929, formalizou-se um acordo, no qual Getúlio
Vargas comprometia-se a aceitar os resultados das eleições e, em caso de
derrota da Aliança Liberal, se comprometia a apoiar Júlio Prestes. Em troca,
Washington Luís comprometia-se a não ajudar a oposição gaúcha a Getúlio, a qual
praticamente não existia, pois Getúlio unira o Rio Grande do Sul.
Em dezembro de 1929, o ex-presidente Epitácio Pessoa manifestou seu apoio público à Aliança Liberal: "A Aliança Liberal ha de vencer, custe o que custar, porque o povo
brasileiro não quer ser escravo, e reivindica suas liberalidades".
No dia 2 de janeiro de 1930,
Getúlio Vargas lê, na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro, a Plataforma
da Aliança Liberal, tratando dos principais problemas brasileiros, na qual,
destaca as questões sociais: "Não se pode negar a existência da
Questão Social no Brasil como um dos problemas que terão de ser encarados com
seriedade pelos poderes públicos. O pouco que possuímos em matéria de legislação
social não é aplicada ou só o é em parte mínima, esporadicamente, apesar dos
compromissos que assumimos a respeito, como signatários do Tratado de Versalhes".
E criticou a política de
valorização do café que vinha sendo feita até então: "A
valorização do café, com se fazia, teve tríplice efeito negativo: diminuiu o
consumo, fez surgir sucedâneos e intensificou a concorrência, que, se era
precária antes do plano brasileiro, este a converteu em opulenta fonte de
ganho. Foram, com efeito, os produtores estrangeiros e não os nossos,
paradoxalmente, os beneficiários da valorização que aqui se pôs em
prática".
A Aliança Liberal teve o apoio de
intelectuais como José Américo de
Almeida, João Neves da
Fontoura, Lindolfo
Collor, Virgílio
Alvim de Melo Franco, Afrânio de Melo
Franco, Júlio de
Mesquita Filho, Plínio Barreto e Pedro Ernesto,
de membros das camadas médias urbanas, na época chamadas de "classes
liberais" que se opunham às "classes conservadoras" formada
pelas associações comerciais e fazendeiros. No Rio Grande do Sul, o grande
articulador da Aliança Liberal foi Osvaldo Aranha.
A Aliança Liberal contou com o
apoio, também, da corrente político-militar chamada "Tenentismo".
Destacavam-se, entre os tenentes: Cordeiro de Farias, Newton de
Andrade Cavalcanti, Eduardo Gomes, Antônio de
Siqueira Campos, João Alberto
Lins de Barros, Juarez Távora, Luís Carlos Prestes, Bertoldo Klinger, João Cabanas, Newton Estillac Leal, Filinto Müller e os três tenentes
conhecidos como os "tenentes de Juarez": Juracy Magalhães, Agildo Barata e Jurandir Bizarria
Mamede. E ainda na marinha do Brasil: Ernâni do Amaral
Peixoto, Ari Parreiras, Augusto do Amaral
Peixoto, Protógenes
Pereira Guimarães. E o general reformado Isidoro Dias Lopes, o general honorário do exército brasileiro José Antônio
Flores da Cunha e o major da Polícia Militar de São Paulo Miguel Costa. O
tenente Cordeiro de Farias, que chegou a marechal, afirmou,
em suas memórias, que os tenentes estavam em minoria no exército brasileiro em
1930, mas que mesmo assim fizeram a revolução de 1930.
Os objetivos e os ideais da
Aliança Liberal podem ser sintetizados pela frase do presidente de Minas
Gerais, Antônio Carlos, que afirmava, ainda em 1929, em um discurso
interpretado como um presságio e uma demonstração do instinto de sobrevivência
de um político experiente, ao implantar, em Belo Horizonte,
pela primeira vez no Brasil, o voto secreto: "Façamos
serenamente a revolução, antes que o povo a faça pela violência".
Assim termino esta edição que
nos trouxe fatos históricos de grande relevâncias da nossa historia
brasileira...jcf
ATÉ A PRÓXIMA OPORTUNIDADE...JCF
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