31/MAR/2020 - JCF
A HISTÓRIA DA
TORTURA NO BRASIL
fonte: Tortura no Brasil
Treinamento
em Técnicas de Tortura
JCF
Clovis - Tradição e Cultura
Viajando
pela historia e cultura
1812
– TORTURA NO BRASIL
30/03/2020 – Nesta edição nº 1812 será
retratado o tema “Tortura no Brasil...
A HISTÓRIA DA
TORTURA NO BRASIL
fonte: Tortura no Brasil
No Brasil, o uso da tortura - seja como
meio de obtenção de provas através da confissão, seja
como forma de castigo a prisioneiros - data dos tempos da Colônia. Legado da Inquisição, a tortura nunca deixou de ser aplicada no
Brasil durante os 322 anos de período colonial e nem posteriormente - nos 67
anos do Império e
no período republicano.
Durante
os chamados anos de chumbo,
assim como na ditadura Vargas (período denominado Estado Novo ou República Nova,
em alusão à República Velha,
que findava), houve a prática sistemática da tortura contra presos políticos - aqueles considerados subversivos e que, alegadamente, ameaçavam
a segurança nacional.
Durante a Ditadura Militar (1964-1985)
TORTURAS NO BRASIL...ATÉ QUANDO???
Durante o regime militar de 1964,
os torturadores brasileiros eram, em sua grande maioria, militares das forças armadas,
em especial do exército. Os
principais centros de tortura no Brasil, nesta época, eram os Destacamentos de Operações de Informação - Centros de Operações
de Defesa Interna (DOI/CODI), órgãos militares de defesa
interna. No ano de 2006, Carlos
Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército Brasileiro e
ex-chefe do DOI/CODI de São Paulo, respondeu por crime de tortura em tribunal militar.
ESTE É O CONHECIDO "PAU DE ARARA"...JCF
Mas
havia também torturadores civis, que atuavam sob ordens dos militares. Um dos
torturadores mais famosos e cruéis foi Sérgio Paranhos Fleury,
delegado do Departamento
de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, que
se utilizava de métodos brutais - e, por vezes, letais - para conseguir as
confissões de seus suspeitos, à revelia de seus chefes. Segundo o
relatório "Brasil: Nunca Mais", pelo
menos 1 918 prisioneiros políticos atestaram ter sido torturados entre 1964 e 1979 (15
de março de 1979 era a data-limite do período a ser investigado). O
documento descreve 283 diferentes formas de tortura utilizadas na época pelos
órgãos de segurança.
No
final dos anos 1960 e
início dos anos 1970, as
ditaduras militares do Brasil e de outros países da América do Sul criaram a
chamada Operação Condor para
perseguir, torturar e eliminar opositores.
Receberam o apoio de especialistas militares norte-americanos ligados à Agência Central de
Inteligência (CIA), que ensinaram novas técnicas de tortura
para obtenção de informações. A Escola das Américas,
instalada nos Estados Unidos,
foi identificada por historiadores e testemunhas como um centro de difusão de
técnicas de tortura. O americano Dan Mitrione foi um dos enviados americanos que,
posando como agente da Embaixada
Americana no Brasil, treinou policiais brasileiros em
técnicas de tortura "científicas" para a obtenção de informações
de suspeitos presos. Ele se utilizava de mendigos para dar demonstrações de suas técnicas. A
história de Mitrione no Brasil foi objeto do filme Estado de Sítio,
de Costa-Gravas.
A tortura e os mortos na ditadura militar
Com
a redemocratização,
em 1985, cessou a prática da tortura com fins políticos. Mas as técnicas foram
incorporadas por muitos policiais, que passaram a aplicá-las contra os presos
comuns, suspeitos ou detentos, principalmente quando negros e pobres, ou, nas áreas rurais, indígenas. Entre
as principais técnicas de tortura aplicadas no período, podem ser citadasː
o afogamento, a cadeira do dragão (espécie
de cadeira elétrica), espancamentos, soro da verdade (droga injetável que deixa a vítima em estado de sonolência), a geladeira (pequena caixa em que a
vítima era confinada e sofria com oscilações extremas de temperatura e barulhos perturbadores) e pau de arara.
Treinamento
em Técnicas de Tortura
As técnicas de tortura
utilizadas no Brasil, ao contrário da ideia de que seriam improvisos dos que
aplicam a tortura, têm, na verdade, estreita conexão com técnicas desenvolvidas
através de experimentos como os do Projeto MKULTRA. Técnicas trazidas para o Brasil e América Latina, através de treinamento e treinadores
americanos, estão contidas nos Manuais KUBARK utilizados para treinamento de
militares e agentes de segurança brasileiros na Escola das Américas além
de em outros programas de intercâmbio.
ONU: TORTURAS E MAUS TRATOS AOS PRISIONEIROS É REGRA DE IMPUNIDADE...
Vários
militares e agentes de segurança do Brasil receberam treinamento na Escola das Américas,
cujo nome foi modificado para Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança.
Vários membros da força policial brasileira foram treinados por especialistas
em tortura que vieram para o Brasil com o objetivo de difundir os métodos e
meios de interrogatório compilados
pela CIA.
Foi
o caso do conhecido Dan Mitrione. Em
meados dos anos 1960, Mitrioni foi contratado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
(USAID) para treinar as polícias do Brasil e do Uruguai, ensinando métodos de tortura que espalharam,
no Brasil e no Uruguai, mais violações de direitos humanos e brutalidade policial. Alguns
documentos liberados pelo governo americano sobre as atividades de Mitrione na
América do Sul estão arquivados pelo projeto The National Security Archive.
A
recente liberação pelo governo americano de uma lista parcial de nomes de
participantes nos treinamentos da Escola das Américas revelou
também o fato de que militares brasileiros treinaram e participaram de tortura,
inclusive no Chile. A organização Observador da Escola das
Américas, desde 1983, pesquisa informações sobre países que enviam
pessoal para treinamento na Escola das Américas e
publica nomes de treinandos, fazendo campanha pelo fechamento da chamada
"Escola de Assassinos", atualmente intitulada "Instituto do
Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança" (Western
Hemisphere Institute for Security Cooperation, em inglês).
OS CINCO MARECHAIS PRESIDENTES NO PERÍODO DE 1964/1985
Depois da ditadura
Após a ditadura militar
brasileira, ainda é comum serem relatados casos de tortura no Brasil. Foram
registradas na Secretaria Nacional de Direitos Humanos 466 denúncias de tortura
contra a população carcerária em 2013. Para a sua tese de mestrado, a
socióloga do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP),
Maria Gorete Marques acompanhou 181 agentes do Estado que estavam sendo
processados por tortura e concluiu que 70% deles não foram punidos.
Segundo
a socióloga, "Os policiais desconstroem a acusação, dizem que a vítima já
veio com as lesões, transferindo a autoria para terceiros." A média de
denúncias recebidas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2013 era de 36
denúncias por mês sobre tortura e maus-tratos contra presos. No Ministério da
Justiça, era 130.
Segundo
o juiz Luciano Losekann, do Monitoramento do Sistema Carcerário, "Ocorre,
em geral, em ambientes fechados, longe dos olhos de testemunhas ou com a
temerosa cumplicidade de agentes públicos." Wilde Tayler, vice-diretor do
Subcomitê de Prevenção à Tortura da ONU, disse que "Parece que há sempre
uma desculpa para os hematomas – tem muita gente caindo da escada. (…) Algumas
coisas que vi no Brasil eu não esperava ver nos países mais severamente
subdesenvolvidos." Juliano Breda, presidente da OAB-PR disse que o
Ministério Público e o Poder Judiciário são responsáveis pelos casos de tortura
no Brasil, por não se aprofundarem nas investigações.
Segundo
levantamento feito em 2010 pela professora Nancy Cardia, do Núcleo de Estudo da
Violência da USP, 52,5% da população concordava que um tribunal poderia aceitar
provas obtidas através de tortura. Em 1999, 71,2% da população tinha o mesmo
raciocínio.
ATÉ UMA PRÓXIMA VEZ...JCF
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